Felicidade, bem-estar, alegria, amor, generosidade, humor e otimismo. Nas últimas três décadas, surgiu no seio da Psicologia um ramo que se tem dedicado ao estudo das emoções e do pensamento positivo. “A Psicologia Positiva procura perceber o que é que faz com que as pessoas estejam no seu melhor”, explica Helena Marujo, presidente da Associação Portuguesa de Estudos e Intervenção em Psicologia Positiva.

“A vida que vale a pena ser vivida”, “as virtudes humanas”, “o que é bom e o que é mau” são questões tradicionalmente associadas à Filosofia e à Religião. A Psicologia dedicava-se apenas ao estudo de dimensões patológicas como a depressão ou o stress pós-traumático, “silenciando a dimensão positiva da vida”. Com o surgimento da Psicologia Positiva, passou a dedicar-se também ao estudo de temas positivos com critérios científicos. “Usar a ciência para perceber, por exemplo, porque é que há pessoas que passaram por experiências traumáticas, mas são resilientes”, explica a especialista.

Pensamento positivo: para quê?

Ao longo dos anos, os estudos têm mostrado que encarar a vida de forma positiva tem efeitos benéficos para a saúde. “Quem relata a sua vida de forma benevolente vive, em média, mais 10 anos do que as pessoas que têm uma relação menos positiva com o passado”, assegura Helena Marujo.

Os mecanismos explicativos não estão ainda esclarecidos pela ciência, mas já se verificaram efeitos benéficos do pensamento positivo a vários níveis. É o caso da saúde cardiovascular, no controlo da ansiedade e na resposta do organismo a inflamações e doenças como o cancro ou a infeção por VIH.

Por outro lado, “este movimento da Psicologia Positiva acabou por se estender a outras áreas. Já há estudos sobre economia da felicidade e saúde positiva “, exemplifica Helena Marujo. Sabe-se, por exemplo, que “os países onde se investe mais na prevenção de doenças são mais felizes”.

Como treinar o pensamento positivo

A Psicologia Positiva ensina que é possível treinar o pensamento positivo e aprender a ser mais feliz. Um caminho que começa por identificar em que consiste a felidade.

“Há dois tipos de felicidade: a hedónica e a eudaimónica. A primeira resulta da busca de prazer e da fuga à dor; a segunda implica ter uma vida com sentido, em que a felicidade é associada a um processo de crescimento”, esclarece Helena Marujo. Tendo em conta este pressuposto, há estratégias práticas que permitem caminhar em direção a esse objetivo:

  1. Identifique acontecimentos e pessoas positivas

“É muito importante saber reconhecer e saborear as experiências alegres e compensadoras do quotidiano e potenciá-las, depois”, aconselha a psicóloga. Procure, por isso, estar atento ao que lhe acontece, focando o seu olhar nas coisas positivas. Esta atitude ajudá-lo-á a sentir-se mais feliz, mas também o tornará mais capaz de lidar com o negativo.

  1. Responda de forma ativa a estímulos positivos

Não fique indiferente aos comentários positivos das pessoas que o rodeiam. Por exemplo, se um amigo lhe contar que tem dormido melhor, faça uma observação positiva, sugere Helena Marujo. “Vários estudos demonstram que os vínculos se fortalecem quando os outros nos trazem coisas boas.”

  1. Reflita sobre o que dá sentido à sua vida

A questão pode parecer demasiado filosófica, mas é fundamental à felicidade, assegura a professora universitária. “O sentido da vida de cada pessoa não pode ser uma questão implícita. Tem de ser procurado por cada um. A nossa saúde e bem-estar estão dependentes de uma vida com sentido, de uma vida de colaboração para o bem comum.”

  1. Invista em relações de qualidade

“Ter relações de qualidade é vital para a saúde”, explica Helena Marujo. Todos precisamos de uma rede de suporte para nos sentirmos felizes. Por isso, reserve uma parte do seu dia para estar com a família e os amigos. Vários estudos demonstram que a solidão está associada a um maior índice de mortalidade, refere a especialista.

  1. Identifique as suas virtudes

É importante que cada pessoa saiba reconhecer os seus pontos fortes. Para isso, pode inclusivamente recorrer a questionários validados cientificamente, como este. “Ter experiências de vida onde possamos pôr as qualidades a render, seja em atividades pessoais ou profissionais, torna-nos mais felizes ”, diz Helena Marujo. Ao mesmo tempo, reconhecer essas qualidades permite-nos ser mais bem-sucedidos nas metas estabelecidas.

Qual o papel das emoções negativas?  

A psicologia positiva não negligencia a existência da dor nem do sofrimento. “Sabemos que o negativo tem um grande impacto na nossa vida e é preciso aprender a lidar com essas emoções, ajudando as pessoas a construírem um mindset positivo”, diz Helena Marujo.

No entanto, “o [pensamento] positivo não pode ser uma imposição, mas uma escolha”, explica. E exemplifica: “Na Psicologia Positiva, o respeito pela dor é visível, por exemplo, nas sessões de terapia. Normalmente pergunta-se: «Permite-me que seja positivo?». Há pessoas que não estão dispostas a isso, no momento, e é preciso respeitá-las.”

URO/2017/0035/PTAG, NOV17