Apesar do nome invulgar, o cistocelo é um problema comum, principalmente em mulheres com mais de 40 anos e que já tiveram filhos. Acontece quando a estrutura de suporte dos órgãos pélvicos enfraquece ou se rompe, fazendo com que a bexiga descaia sobre a vagina.

Esta estrutura, o pavimento pélvico, é composta por músculos, ligamentos e tecido conjuntivo (fáscia) que suportam a bexiga, o útero e o reto. Quando este suporte rompe ou enfraquece, estes órgãos podem descair e alterar a sua posição anatómica, causando uma protuberância que pode chegar a exteriorizar-se através da abertura da vagina.

Muitas vezes, o cistocelo pode passar despercebido. Há mulheres que acham que se trata de uma situação natural inerente ao envelhecimento, enquanto outras “não sabem a quem se dirigir ou sentem vergonha e não procuram ajuda médica”, constata a ginecologista-obstetra Sofia Alegra. No entanto, é importante recorrer a um especialista em uroginecologia, para reduzir o risco de a situação agravar e de surgirem complicações.

Causas do cistocelo

O desenvolvimento de cistocelo pode associar-se a situações de esforço excessivo que contribuem para o enfraquecimento dos tecidos do pavimento pélvico. É o caso de:

  • Gravidez e parto vaginal, as causas mais comuns de cistocelo;
  • Trabalhos pesados;
  • Prisão de ventre;
  • Tosse crónica;
  • Excesso de peso ou obesidade.

O enfraquecimento dos tecidos do pavimento pélvico também pode ter origem em fatores de outra ordem, nomeadamente:

  • Envelhecimento dos tecidos;
  • Tabagismo, que predispõe a doença pulmonar, tosse crónica e consequente aumento da pressão intra-abdominal;
  • Menopausa, devido ao declínio natural da produção de estrogénios (hormona produzida pelos ovários) nesta etapa da vida;
  • Remoção do útero. “A histerectomia pode contribuir para o enfraquecimento do suporte do soalho pélvico e causar prolapso de um modo geral, não só cistocelo”, explica Sofia Alegra;
  • Pode também haver uma componente genética que predispõe ao enfraquecimento dos tecidos, tornando algumas mulheres mais vulneráveis ao prolapso anterior.

Sinais de alerta do cistocelo

Em muitos casos o prolapso da bexiga não dá origem a sintomas. No entanto, há situações em que as mulheres podem apresentar um considerável desconforto e queixas como:

  • Dificuldade em urinar. O cistocelo pode dificultar o esvaziamento da bexiga;
  • Infeções urinárias e a sensação de esvaziamento incompleto da bexiga após uma ida à casa de banho;
  • Episódios de urgência e frequência urinária, ou seja, vontade repentina e incontrolável de ir à casa de banho ou urinar mais de oito vezes por dia;
  • Em alguns casos, pode ocultar uma incontinência urinária de esforço devido à alteração do ângulo entre a uretra e a bexiga.

Para além destes sintomas, pode surgir também:

  • Pressão na zona pélvica, que se agrava com o esforço, com a tosse, na posição de pé ou ao final do dia;
  • Sensação de ter uma bola na vagina;
  • Dores pélvicas e/ou lombares;
  • Atividade sexual desconfortável ou dolorosa (dispareunia);
  • Incontinência urinária durante as relações sexuais.

Diagnóstico e tipos de cistocelo

O diagnóstico do cistocelo é, segundo Sofia Alegra, “essencialmente clínico, assente na história médica e na observação ginecológica da doente”. No entanto, em casos com maior complexidade e para melhor esclarecimento da situação, o médico pode recorrer a exames complementares. É o caso da ecografia pélvica, renal e vesical, do estudo urodinâmico ou da ressonância magnética pélvica.

Dependendo da gravidade, o cistocelo pode ser classificado numa escala de 3 graus, de acordo com o National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (NIDDK):

  • Grau 1 ou ligeiro

    A bexiga cai apenas um pouco no interior da vagina.

  • Grau 2 ou moderado

    A descida da bexiga chega à entrada do órgão genital feminino e a mulher consegue tocar na protuberância.

  • Grau 3 ou grave

    O prolapso ultrapassa a entrada da vagina.

Tratamento do cistocelo

“O tratamento do prolapso genital é maioritariamente cirúrgico”, afirma Sofia Alegra. No entanto, tudo depende do nível de gravidade de cada caso. Para mulheres que não apresentem sintomatologia ou com sintomas muito ligeiros, há abordagens menos invasivas que podem ser suficientes.

  • Medidas de estilo de vida

Aqui inclui-se a perda de peso, caso a mulher tenha peso a mais; evitar esforços físicos excessivos; deixar de fumar; fazer fisioterapia e exercícios de reeducação pélvica (exercícios de Kegel).

  • Terapia de substituição hormonal

Se as medidas de estilo de vida não forem suficientes, o médico poderá recomendar a terapia com estrogénios locais, que ajuda a melhorar a qualidade dos tecidos (hidratação e elasticidade da mucosa vaginal.) A bexiga e a uretra também são sensíveis a esta terapêutica.

  • Uso de pessário

O pessário é um anel, geralmente de silicone, que se introduz na vagina e serve para recolocar e manter os órgãos pélvicos no seu lugar”, esclarece Sofia Alegra. Segundo a ginecologista-obstetra “esta pode ser uma solução para as mulheres que não querem ou não podem fazer a cirurgia devido a alguma condicionante, bem como para as que ainda desejam engravidar”.

  • Cirurgia – primeira abordagem

Em mulheres sintomáticas e com alteração da qualidade de vida, a cirurgia é o único tratamento realmente eficaz para alívio da sintomatologia. Como explica a ginecologista-obstetra, “o tratamento cirúrgico é simples e faz-se por via vaginal. Numa primeira abordagem está recomendado que se faça a reparação do cistocelo através do reforço da fáscia usando apenas os tecidos da própria. Um pregueado do tecido fragilizado confere-lhe uma maior resistência.”

  • Cirurgia – em caso de recidiva

Apesar de a cirurgia reparar o prolapso, o cistocelo tem um maior risco de reincidência. Assim, “como segunda abordagem cirúrgica, sobretudo no caso de uma recidiva, as recomendações internacionais permitem a colocação de uma rede, que reforçará os tecidos, criando novos ligamentos e atuando como plataforma de suporte da bexiga”, informa Sofia Alegra.

Sabia que…

Segundo o Grupo Português Génito-Urinário, algumas mulheres com bexiga hiperativa que também apresentem cistocelo e incontinência urinária podem melhorar da bexiga hiperativa se corrigirem os dois últimos problemas.

50%

Proporção de mulheres que irá sofrer de algum grau de prolapso ao longo da vida. Destas, apenas 11% apresentará sintomatologia que necessite de tratamento cirúrgico.

Fonte: Associação Portuguesa de Neurourologia e Uroginecologia (APNUG)

 

URO/2017/0035/PTdq, MAR19