Dedicada ao estudo e tratamento do aparelho reprodutor feminino, a Ginecologia e Obstetrícia é a especialidade médica que acompanha a mulher em momentos como a entrada na puberdade, a gravidez e a menopausa. Mais do que isso, o ginecologista é, muitas vezes, o primeiro ponto de contacto da mulher com os cuidados de saúde. Sofia Alegra, ginecologista-obstetra há 19 anos, com subespecialização em uroginecologia, abriu o consultório ao Comece Hoje.

A que se dedica um ginecologista?

“A ginecologia trata de tudo o que esteja relacionado com o aparelho reprodutor da mulher, incluindo a vulva, a vagina, o útero e os ovários”, explica Sofia Alegra. Já a obstetrícia é o ramo da medicina que se dedica à gestação, parto e pós-parto. Assim, além da vigilância e rastreios ginecológicos, do diagnóstico e tratamento de doenças associadas a estes órgãos, a Ginecologia e Obstetrícia é responsável pelo planeamento familiar e pelo acompanhamento da mulher na gravidez.

“Acabamos por ser o médico-âncora, já que somos, habitualmente, quem mais acompanha a saúde da mulher, de forma regular, ao longo da sua vida. Por isso, acabamos por fazer algum rastreio inicial de outro tipo de doenças e fazer o respetivo encaminhamento, quer para a clínica geral, quer para colegas de outras especialidades”, conta a ginecologista-obstetra.

Que subespecialidades existem dentro desta especialidade?

Há médicos ginecologistas particularmente indicados para lidar com as alterações hormonais próprias da menopausa; para acompanhar a mulher na gravidez e no parto (obstetrícia); para tratar patologias oncológicas genitais ou mamárias (ginecologia oncológica); ou para diagnosticar e tratar problemas urinários como a bexiga hiperativa e a incontinência urinária (uroginecologia).

Em que consiste a uroginecologia?

A uroginecologia é uma subespecialidade comum a ginecologia e urologia que “aborda as patologias específicas da incontinência urinária feminina e o prolapso dos órgãos pélvicos, podendo ainda abranger situações ano-retais, sexuais e relativas à dor pélvica crónica”, explica Sofia Alegra. A sua “abordagem a estas patologias específicas acaba por ser mais eficaz do que a de um ginecologista geral, urologista ou clínico geral”, realça.

O trabalho é sobretudo feito “no âmbito de uma equipa multidisciplinar”, que pode incluir também fisioterapeutas, sexologistas e/ou outros especialistas. Não sendo ainda reconhecida pela Ordem dos Médicos como subespecialização, a Uroginecologia tem uma secção própria na Sociedade Portuguesa da Ginecologia. O médico de família, o ginecologista ou qualquer outro médico pode encaminhar as doentes, se necessário.

Que sintomas podem motivar uma consulta?

Para uma prevenção e vigilância ginecológicas adequadas, deve ir-se ao ginecologista “com uma regularidade de um a dois anos, no máximo”, indica Sofia Alegra. Além disso, há sinais e sintomas que podem motivar a marcação de consulta. Estes são os principais:

  • Hemorragias anómalas;
  • Corrimentos vaginais que podem estar associados a ardor, prurido, odores;
  • Dores pélvicas;
  • Dores durante o ato sexual.

Esteja também atenta aos seguintes sinais do foro uroginecológico:

  • Aumento da frequência miccional: mais do que oito vezes durante o dia ou mais do que duas vezes durante a noite;
  • Urgência urinária;
  • Incontinência urinária ou fecal;
  • Dificuldade em esvaziar completamente a bexiga ou o intestino;
  • Dificuldade em iniciar a micção.

Que doenças podem ser diagnosticadas e tratadas pelo ginecologista?

São várias as doenças que podem ser diagnosticas por um ginecologista: desde hemorragias anómalas associadas a alterações hormonais, miomas ou pólipos – bastante frequentes e que podem causar anemias – até tumores malignos nos órgãos do sistema reprodutor feminino.

A lista é longa e inclui também gravidez extra-uterina (como por exemplo nas trompas), infertilidade, síndrome dos ovários poliquísticos, endometriose, doenças sexualmente transmissíveis e disfunção sexual. Problemas como incontinência urinária ou prolapso dos órgãos pélvicos têm “elevada taxa de cura e “pós-operatório muito simples”, realça Sofia Alegra.

Que outras situações são acompanhadas pelo ginecologista?

O ginecologista presta um acompanhamento essencial em questões relacionadas com a gravidez, partos, menstruação, interrupção da gravidez, fertilidade, contraceção e menopausa. “É fundamental que as mulheres se mantenham vigiadas e verifiquem se há uma adequação da contraceção que estão a fazer em função da sua própria saúde e das expetativas de planeamento familiar do casal”, exemplifica Sofia Alegra.

O que acontece durante uma consulta?

Em geral, uma consulta começa com a entrevista médica, em são feitas perguntas sobre o estilo de vida e historial médico. Segue-se uma avaliação dos sinais vitais e exame físico geral, incluindo palpação mamária. Na maioria dos casos, é depois realizado um exame pélvico. Este pode incluir uma citologia cervicovaginal (exame de Papanicolau), que permite recolher células para análise e rastreio do cancro do colo do útero.

Os procedimentos na consulta dependem da idade, do histórico e das queixas específicas de cada doente. Por exemplo, caso a primeira consulta seja realizada numa idade muito jovem, pode não ser feito o exame ginecológico.

Que exames podem ser realizados ou solicitados pelo ginecologista?

Além da citologia, “os principais exames são as ecografias pélvicas e mamárias e, a partir de certa idade, as mamografias”, esclarece Sofia Alegra. No âmbito da ginecologia podem ainda ser pedidas análises clínicas e de sangue. Já exames como a TAC (Tomografia Axial Computorizada) ou ressonâncias magnéticas “são utilizadas excecionalmente, em caso de endometriose ou suspeita de tumor maligno”, acrescenta a especialista.

 

13 a 15 anos

Idade em que deve ser realizada a primeira consulta de ginecologia, embora possa ser antes desta caso existam sintomas que o justifiquem.

3 a 5 anos

Regularidade com que deve ser realizado o rastreio do cancro do colo do útero, a partir dos 25 anos da mulher, recomenda a Direção-Geral da Saúde.