Calcula-se que a incontinência urinária afete um em cada cinco portugueses. A estimativa é da Associação Portuguesa de Urologia, um valor estimado uma vez que ainda há muitas pessoas que não procuram ajuda médica. A doença permanece, assim, por diagnosticar e por tratar. Uma das razões que explicam este cenário é o facto de a incontinência urinária ainda ser olhada com desconforto pela própria pessoa, que sente inibição em partilhar as suas dúvidas e queixas. Talvez por isso, existem muitas ideias comuns sobre incontinência urinária que não correspondem ao que já se sabe do ponto de vista científico. Importa identificá-las e desconstruí-las em nome da saúde e bem-estar.

“A incontinência urinária só afeta pessoas idosas”

Mito | Com a idade, ocorrem mudanças no organismo que podem conduzir a um maior risco de incontinência urinária. Por exemplo, os músculos, incluindo os do pavimento pélvico, vão ficando mais relaxados. No entanto, a incontinência urinária não deve ser vista como uma consequência inevitável do envelhecimento. Tal como outros músculos do nosso corpo, o pavimento pélvico pode e deve ser fortalecido. Por outro lado, a incontinência urinária pode ocorrer noutras fases da vida, não sendo um exclusivo de idades avançadas.

“Só acontece às mulheres”

Mito | A incontinência urinária não é um exclusivo feminino, embora seja mais frequente nas mulheres. Estima-se que um em cada dez homens tenha queixas de incontinência urinária, a maior parte das vezes associadas a doenças como a hipertrofia benigna da próstata. É que, ao aumentar de dimensão, e mesmo exercendo uma maior pressão sobre a uretra (que deveria proteger da incontinência), a hiperplasia benigna da próstata pode acompanhar-se de sintomas como urgência urinária e perdas de urina.

“É mais comum em pessoas com bexiga pequena”

Mito | A perda de urina não está diretamente relacionada com a capacidade da bexiga. Doentes com bexiga de grande capacidade podem até estar mais predispostos a ter incontinência urinária, nomeadamente de esforço, atendendo a que a bexiga demasiado cheia pode exigir um mecanismo de continência mais eficaz para evitar perdas. Ainda assim, uma bexiga de baixa capacidade, como frequentemente é o caso dos doentes com bexiga hiperativa, pode estar associada também a incontinência urinária – neste caso causada por contrações involuntárias da bexiga.

“Adiar a ida à casa de banho pode causar incontinência urinária”

Facto | O hábito de adiar a ida à casa de banho é nocivo para a bexiga. O aumento da pressão sobre as suas paredes aumenta o risco de perdas involuntárias de urina (incontinência de esforço). Por isso, de uma forma geral, é desejável ir à casa de banho sempre que se sente vontade.

“Beber poucos líquidos previne a incontinência”

Mito | Reduzir a ingestão de líquidos numa tentativa de conter a incontinência urinária é um erro comum. Este hábito pode ser contraproducente: com uma menor ingestão de líquidos, a urina fica mais concentrada e torna-se mais irritativa para a bexiga. A ingestão de líquidos – sobretudo de água – é necessária para o normal funcionamento da bexiga, ajudando a diluir a urina, bem como para o estado geral de saúde. Desta forma, poderá ajustar o horário em que bebe líquidos, mas deve ingeri-los sempre em quantidade adequada.

“Rir ou tossir pode desencadear perdas de urina”

Facto | Movimentos repentinos e/ou intensos como rir, tossir, espirrar, saltar ou carregar pesos aumentam a pressão na zona pélvica. Se os músculos do pavimento pélvico estiverem enfraquecidos, podem não conseguir impedir perdas de urina (incontinência de esforço). Estes mesmos estímulos podem também desencadear contrações da bexiga e originar perdas no contexto de bexiga hiperativa (incontinência urinária de urgência).

“O parto vaginal pode provocar incontinência urinária”

Facto | Os partos por via vaginal, principalmente de fetos com peso elevado, com recurso a fórceps, ventosa, episiotomia (incisão para facilitar a saída do bebé) ou laceração (rasgadura) são fatores de risco para o desenvolvimento de incontinência urinária. Torna-se mais provável que a mulher possa vir a sofrer de incontinência, mas não é garantido. As eventuais consequências poderão ser minimizadas com um acompanhamento adequado no pré e pós-parto por uma terapeuta do pavimento pélvico. O objetivo é prevenir e reabilitar precocemente o pavimento pélvico, atenuando ou evitando incontinência urinária futura.

“Incontinência urinária e bexiga hiperativa são a mesma coisa”

Mito | A bexiga hiperativa é uma síndrome, isto é, um conjunto de sintomas em que se inclui a vontade repentina e dificilmente controlável de ir à casa de banho. Esta urgência pode ocorrer com ou sem incontinência (perda involuntária de urina). Desta forma, a incontinência urinária de urgência pode ser um dos sintomas da bexiga hiperativa, tal como pode ser também sintoma de outros problemas (infeções urinárias, por exemplo). Na origem da incontinência de urgência podem estar causas muito variadas, sendo indispensável o diagnóstico médico. Na ausência de outra causa identificável, o diagnóstico é de síndrome bexiga hiperativa.

“A incontinência urinária não tem cura”

Mito | É possível tratar e resolver a incontinência urinária. Já aqui mencionámos os exercícios que reforçam os músculos do pavimento pélvico, chamados exercícios de Kegel e que atuam sobre a camada de suporte da bexiga, reforçando-a. Algumas medidas alimentares, de controlo do peso e reeducação da bexiga também podem ajudar. Outras possibilidades são medicamentos, a eletroestimulação ou cirurgia. Tudo depende do diagnóstico. Não há dois casos iguais, pelo que é fundamental procurar ajuda médica.

 

URO/2017/0033/Ptce, Fev19