A felicidade é um conceito abstrato e subjetivo que cada um preenche à sua maneira. Mas a definição geralmente aceite pelos investigadores na área da psicologia positiva, relaciona-a com um sentimento de satisfação perante a vida e com a capacidade de experimentar frequentemente emoções positivas, como a alegria.

Sabe-se que a felicidade nos ajuda a sermos saudáveis. Como explica a Harvard Medical School, a evidência científica disponível mostra que, quando nos focamos nas coisas que nos fazem felizes, exploramos emoções positivas e reduzimos os níveis de stresse, podemos viver melhor e mais tempo.

Mas será que sermos saudáveis também nos ajuda a sermos felizes? A resposta – apesar de ser sim – acaba por ser um pouco menos óbvia e com mais nuances do que o senso comum nos diria: é verdade que as doenças crónicas e as incapacidades podem ter um impacto muito significativo na nossa felicidade, mas também não são uma sentença de infelicidade, como sabe qualquer doente crónico.

Felicidade apesar e por causa da doença

Silke Hoppe, investigadora de antropologia da doença na Universidade de Amsterdão publicou, em 2013, um trabalho que parte de entrevistas a várias pessoas diagnosticadas com esclerose múltipla, no qual vai mais longe: não só se pode ser feliz apesar da doença, como se pode ser feliz por causa da doença.

A investigadora identificou um primeiro grupo de entrevistados que continuavam a ser felizes apesar da doença. Nestes destacaram-se a sensação de empoderamento da pessoa ao conseguir ajustar-se à nova condição, o facto de conseguir manter algumas das atividades de que gostava, a sensação de a doença não lhe ter afetado prioridades de vida ou, ainda, a noção de que amigos e familiares realmente se importavam e apoiavam.

Noutros entrevistados, o diagnóstico da doença e mesmo as suas implicações acabaram por os transformar em pessoas mais felizes. Por exemplo, porque eram pessoas ansiosas que aprenderam a relaxar e relativizar, porque eram workaholics e aprenderam a usufruir da vida, porque sentiam que viviam com as prioridades trocadas e a doença lhes mudou a visão do mundo e dos outros, ou porque estavam afastados da família e dos amigos e a doença acabou por melhorar a qualidade das suas relações familiares e sociais.

Perturbar o funcionamento diário

Um estudo publicado no Journal of Happiness Studies mostra que é o grau de perturbação do funcionamento diário que a doença causa que está mais associado à redução da felicidade. Erik Angner, professor associado de filosofia, economia e políticas públicas na George Mason University (EUA), trabalhou com uma equipa interdisciplinar de outros investigadores. Acabaram por descobrir que muitas condições médicas graves, incluindo o cancro, têm um impacto surpreendentemente pequeno na felicidade do doente, enquanto condições menos graves – como a incontinência urinária – parecem ter um efeito mais negativo e duradouro.

No seu estudo, Angner concluiu que esta diferença se explica através do impacto que a doença tem no dia a dia. Independentemente da sua gravidade, o que parece verdadeiramente diminuir os níveis de felicidade é a perturbação que causa nas atividades e rotinas diárias normais. Por exemplo, um doente com cancro da próstata cujo funcionamento diário não é afetado pela sua condição – embora possa correr um risco de vida –  pode pontuar mais alto na escala de felicidade do que um doente com incontinência urinária, uma doença benigna mas que impõe limitações ao funcionamento diário.

Otimismo q.b.

Esperar que um familiar ou amigo com uma doença crónica se mantenha positivo o tempo todo é irrealista e pode ser prejudicial, garante Tamara McClintock Greenberg, psicoterapeuta especializada em psicologia da saúde, num artigo da revista Psychology Today. “Quando um familiar ou amigo diz constantemente que ‘tudo acontece por um motivo’ ou ‘tenho a certeza de que vais superar isso’ pressiona o doente a agir alegremente quando não se sente assim.”

Para que o impacto da doença na felicidade não seja tão significativo e os doentes aceitem e lidem com a sua nova condição, eles precisam, sobretudo, de se sentir compreendidos. Com base na sua experiência, a psicoterapeuta garante que tudo o que as pessoas que lutam contra uma doença querem é que os outros compreendam quão difícil é a situação delas. Para isso há que deixá-las sentirem emoções negativas. “Quando os entes queridos dão margem para o doente expressar as suas emoções negativas, quase sempre se abre de seguida um espaço para sentimentos de esperança e para estratégias de enfrentamento saudável.”

Em suma | Otimizar a relação entre saúde e felicidade

  • Treine o pensamento positivo, para melhorar a sua saúde física e mental
  • Passe mais tempo ao ar livre, uma atividade que tem reconhecido impacto positivo na saúde, no humor e na auto-estima
  • Aprenda a gerir o stresse com a prática de meditação ou mindfulness, que têm um reconhecido impacto a nível físico e mental
  • Socorra-se do seu médico, através de uma comunicação assertiva, sempre que surjam dúvidas ou que sinta que o seus problemas de saúde não estão devidamente controlados
  • Pratique a gratidão que, reconhecidamente conduz a uma vida mais feliz e a melhorias funcionais no sono e humor

 

Dica

Se sofre de bexiga hiperativa, fale com o seu médico para conhecer formas de reduzir o impacto desta condição no seu quotidiano.

 

URO/2017/0033/PThd, DEZ18