É um facto: somos seres sociais. Temos necessidade de nos ligarmos uns aos outros para sermos felizes. “É isso que dá sentido e significado às nossas vidas”, sublinha a investigadora norte-americana Brené Brown, que percebeu que um dos segredos das relações mais profundas e verdadeiras reside na vulnerabilidade. De tal forma que se especializou neste tema de investigação e escreveu livros como The Power of Vulnerability e The Gifts of Imperfection.

“Defino vulnerabilidade como risco emocional, como exposição e incerteza”, explica numa conferência que já foi vista online mais de 10 milhões e 500 mil vezes. “Ser vulnerável não é ser fraco. Este é um mito profundamente perigoso”, defende. Trata-se, antes, de uma disponibilidade para se expor ao outro de forma autêntica, dizendo francamente o que se pensa e fazendo escolhas que implicam riscos.

Assumir que se é vulnerável, ou seja, que se tem fragilidades, é um dos passos essenciais para uma vida realizada, advoga a investigadora. “Muitas vezes associamos a vulnerabilidade a emoções que queremos evitar, como o medo, a vergonha e a incerteza, e esquecemo-nos de que é fonte de alegria, pertença, criatividade, autenticidade e amor”, explica.

Um aparente paradoxo

Professora da Universidade de Houston, nos Estados Unidos, Brené Brown chegou a estas conclusões de forma inesperada. No início da sua carreira como investigadora, começou por perceber que as pessoas com dificuldades em estabelecer relações verdadeiras e profundas tinham sentimentos de vergonha. Mais: compreendeu que no âmago disso estava a sensação de vulnerabilidade. Para aprofundar, prolongou a investigação.

Brown acreditava que, se soubesse como minimizar aqueles sentimentos estaria a contribuir para a felicidade de todos. O que descobriu, porém, com base em centenas de entrevistas, foi quase o oposto: a vulnerabilidade era, afinal, o segredo das ligações fortes e profundas e, consequentemente, da felicidade. “A vulnerabilidade é a medida mais exata da coragem”, concluiu.

Quem se mostra vulnerável não se esconde atrás de subterfúgios. Neste sentido, e como explica a investigadora, não existe coragem sem vulnerabilidade e esta não existe sem o risco de falhar. “Uma das coisas que aprendi na minha investigação é que as pessoas que conseguem seguir adiante depois de uma queda, assumem depois riscos mais inteligentes e comportamentos mais corajosos”.

Vulnerabilidade | Passo a passo

Assumir a vulnerabilidade implica algumas mudanças no quotidiano, diz Brené Brown. Conheça os conselhos da especialista:

  • Envolva-se e comprometa-se com as tarefas e problemas do quotidiano. “A primeira coisa a fazer é perceber o que nos impede de pôr as mãos na massa, de estar no terreno”, explica a investigadora. “De que é que temos medo? Em que contextos e por que razão queremos ser mais corajosos?”.
  • Depois de descobrir como se protege da vulnerabilidade, traga isso à tona. “Qual é a sua armadura? O perfeccionismo? A intelectualização? O cinismo? O entorpecimento? O controlo. Foi por aqui que comecei. Não é um caminho fácil, mas é assim que começamos a ter uma vida autêntica”, garante.
  • Evite o perfeccionismo, “um escudo de vinte toneladas que carregamos pensando que nos vai proteger, quando na verdade nos impede de sermos vistos”. A autora defende que a âncora do perfeccionismo é a ideia errada de que ajuda a “evitar a dor da culpa, do julgamento e da vergonha”. Este obstáculo à vulnerabilidade e à felicidade está, no entanto, ligado à ansiedade, à depressão e à estagnação.

 

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